Reforma Tributária: Especialistas alertam que transportadoras precisam iniciar preparação já para 2026
Fonte original: Mundo Logística — https://mundologistica.com.br/noticias/reforma-tributaria-transportadoras
Reforma Tributária: Especialistas alertam que transportadoras precisam iniciar preparação já para 2026
Embora a fase de testes da Reforma Tributária esteja prevista apenas para 2026, especialistas afirmam que as transportadoras não podem esperar o calendário virar para se adaptar. A recomendação foi destaque em um evento realizado por Praxio e KMM, empresas do ecossistema nstech, que reuniu profissionais fiscais e executivos da Rumo Brasil.
Segundo os participantes, a mudança no sistema tributário traz impactos diretos na operação, exigindo ajustes imediatos em tecnologia, processos internos, emissão de documentos fiscais e relacionamento com fornecedores e subcontratados.
Unificação dos tributos e complexidade atual
O novo modelo tributário substitui ICMS, ISS, PIS e COFINS por dois tributos unificados:
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IBS (estadual e municipal)
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CBS (federal)
Maurício Consani, Tech Lead da Praxio, destacou que o atual sistema é fragmentado e complexo, com dezenas de regras estaduais e municipais. Segundo ele, a reforma cria um modelo mais linear, porém exige preparação prévia das empresas para evitar riscos fiscais.
Consani reforça que, embora 2026 seja período de testes, quem ainda não começou a migração já está atrasado.
Marilene Ferreira, especialista da KMM, explicou que o IBS terá competência compartilhada entre estados e municípios, o que substituirá a lógica atual de tributação por origem.
Apuração assistida vai aumentar a responsabilidade das empresas
Um dos pontos mais impactantes é a chamada apuração assistida: a Receita Federal passará a calcular automaticamente os tributos com base nos documentos fiscais eletrônicos emitidos.
Com isso:
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ajustes manuais deixam de existir;
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qualquer erro na emissão ou no recebimento do documento impede a apuração correta;
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toda a cadeia passa a acompanhar o comportamento fiscal umas das outras.
Rafael Brito, diretor-executivo da Rumo Brasil, ressaltou que o modelo cria uma relação de vigilância mútua entre empresas. Fornecedores e clientes precisarão garantir que documentos estejam emitidos e classificados corretamente, caso contrário haverá risco de autuações e bloqueio de créditos.
Split Payment deve pressionar o caixa das empresas
Outra mudança estrutural prevista para 2027 é o split payment, mecanismo que divide automaticamente o pagamento entre empresa e governo no momento da transação financeira.
Exemplo citado pelos especialistas:
Em uma compra de R$ 1.000, se houver R$ 280 de tributos, esse valor será enviado diretamente ao governo. O fornecedor receberá apenas o valor líquido.
Esse modelo:
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elimina o uso do valor bruto como capital de giro,
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pressiona especialmente pequenas e médias transportadoras,
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afeta fluxo de caixa e margens já apertadas.
Alex Morais, Head of Tax da Rumo Brasil, reforçou que muitas empresas usam o valor integral da nota por alguns dias antes do recolhimento – prática que deixará de existir.
Subcontratação e agregados: fiscalização será muito mais rígida
Os especialistas alertaram que a informalidade documental no transporte — especialmente na subcontratação — se tornará um grande problema.
Rafael Brito informou que apenas 20% das empresas subcontratadas emitem o contra-CT-e corretamente.
Com a Reforma, isso se torna inviável: o crédito fiscal só poderá ser tomado com documento válido, não mais com contratos de frete.
Para agregados, a liberação dos créditos exigirá:
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CT-e emitido corretamente
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eventos fiscais registrados no sistema oficial
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rastreabilidade da entrega
Qualquer falha pode bloquear o crédito e gerar perdas significativas.
Benefícios fiscais do ICMS serão extintos gradualmente
Com a substituição do ICMS, os atuais benefícios fiscais deixarão de existir a partir de 2029. Permanecerá apenas a imunidade na exportação, segundo Marilene Ferreira.
Outros mecanismos existirão, mas com conceitos diferentes do modelo atual, e muitos deles não se aplicarão ao transporte.
Cinco ações imediatas que as transportadoras devem iniciar antes de 2026
Segundo Rafael Brito, as empresas já deveriam estar executando os seguintes passos:
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Revisar contratos
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Adequar sistemas (TMS/ERP)
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Reestruturar a gestão de fornecedores e agregados
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Realizar planejamento financeiro
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Treinar as equipes internas
Os especialistas afirmam que a Reforma Tributária não é apenas uma pauta fiscal ou contábil: envolve toda a operação, do embarcador ao transportador.
Maurício Consani reforçou que muitos embarcadores já estão exigindo documentos configurados conforme as novas regras, mesmo em ambiente de homologação. A recomendação é atualizar sistemas e iniciar emissões com as novas TAGs antes da chegada de janeiro.



